Blog de Música
13 de Março de 2009


Fonte: Diário de Notícias da Madeira  

António Victorino d'Almeida está de regresso à Região, para mais uma colaboração com a Orquestra Clássica da Madeira (OCM). E, desta vez, traz algo especial na bagagem: a 'Sinfonia nº 4 'Funchal', Op. 154. O famoso compositor foi convidado a dirigir a OCM, amanhã, pelas 21 horas, no auditório do Casino, num concerto no qual será interpretada não só esta nova peça da sua autoria, como também a Sinfonia nº 49, em Fá menor 'A Paixão', de Franz Joseph Haydn. Nesta temporada, a Orquestra Clássica dedica particular atenção à obra do compositor austríaco (1732-1809). António Victorino d'Almeida, compositor contemporâneo, representa a outra face da moeda. A OCM tem mantido uma colaboração próxima com este criador, na prossecução de uma política de divulgação e interpretação das obras musicais do nosso tempo.

É neste contexto que surge a 'Sinfonia Funchal', que anunciámos em primeira mão a 30 de Janeiro deste ano, ao noticiar toda a programação da OCM para 2009.

Em entrevista ao DIÁRIO, António Victorino d'Almeida refere que esta sua sinfonia é uma criação puramente musical e não temática: não se inspirou de algum modo em motivos madeirenses, mas, bem-humorado, admite: "Psicanaliticamente, todas as peças têm que ver com qualquer coisa. E há uma ligação minha ao Funchal, e fundamental. Eu não existiria sem esta cidade, porque foi cá que o meu pai conheceu a minha mãe [risos]. O meu avô era Augusto Goulart de Medeiros, Governador Civil da Madeira [1934]. A minha mãe viveu no Palácio de São Lourenço. O meu pai era um dos autores de uma revista de despedida de curso, que um grupo de estudantes veio apresentar à Madeira. Ele veio com eles, a filha do governador foi assistir, e pronto, conheceram-se. Daí que eu tenha uma relação forte com esta terra".

Uma música do nosso tempo

Quanto aos aspectos musicais da 'Sinfonia Funchal', considera-a "uma peça completamente do meu estilo: defendo que há que encontrar uma música que seja uma síntese do muito, do imenso que se fez no séc. XX, em diversas áreas musicais. Os caminhos foram variadíssimos, e em todos eles existiram grandes músicos. Hoje existe uma liberdade de expressão musical fantástica, e eu utilizo-a. A minha música é sempre atonal, na medida em que dou um prémio a quem me disser em que tom é que está", ironiza. Em seu entender, nos nossos dias já nem faz sentido falar de música tonal ou atonal. Depois de Schoenberg as coisas nunca mais foram o que eram dantes. As coisas evoluem. Tanto a música tonal como a música atonal acabaram, nos termos em que se lhes nos referíamos no passado, considera. Para a frente é o caminho.

"Acho que o que é mais interesssante, no presente, é desactivar as funções tonais. Desde que não haja uma definição de tónica dominante, desde que não haja essas funções tonais, a música é atonal. O que não quer dizer que seja mais agreste, dissonante".

Na realidade, a música de António Victorino d'Almeida reúne frequentemente características diversificadas, desde exercícios técnicos verdadeiramente virtuosísticos (por exemplo, nas suas Sonatas para piano) a estruturas complexas e verdadeiramente desafiadoras, mas também inclui melodias que, como escreveu há uns anos Alejandro Erlich Oliva, poderíamos trautear à saída dos concertos.

"Aquilo que me leva a escrever música será porventura um objectivo utópico - pois são muitas e diversificadas as técnicas já utilizadas, nomeadamente nos finais do séc. XIX e no séc. XX -, e consiste em estar tanto quanto possível em contacto com o meu tempo, mas sem cair na repetição de esquemas já tão usados e conhecidos que, embora sob uma capa elistista (música para 'entendedores'...) se tornam quase mais previsíveis do que a música comercial que visa fazer negócio (...)", escreveu António Victorino d'Almeida acerca desta sua quarta sinfonia, 'Funchal'.

Esta sinfonia terá um quarto andamento muito diferente dos três primeiros. Ao contrário do que é costume (o quarto andamento costuma ser o mais eufórico, o mais brilhante), este é um adágio, "uma peça extremamente calma, tranquila, extremamente melódica, do princípio ao fim, o que é raro em mim, que costumo colocar as melodias lá para o meio da peça".

Sublinhando o seu gosto por escrever para formações sinfónicas, António Victorino d'Almeida continua a defender o investimento na passagem da OCM a orquestra sinfónica, com mais elementos. Mas nem por isso se sentiu limitado ao escrever para uma orquestra mais pequena, embora inicialmente tenha pensado que sim. Porque o conhecido 'maestro' (que sublinha sempre ser capaz de reger, mas não ser um chefe de orquestra) gosta de acrescentar múltiplos instrumentos, incluindo harpas ou percussão... Nesta peça, optou por incluir um piano na orquestra - o que é raro.

Elogios a Rui Massena

António Victorino d'Almeida diz que chamar à sua quarta sinfonia 'Funchal' "foi a minha forma de retribuir a simpatia com que a OCM me tem distinguido". Uma orquestra que, técnica e artisticamente, veio encontrar no mesmo estado em que a encontrou das últimas vezes, nem melhor nem pior, e que considera "uma orquestra disciplinada", aspecto para o qual, considera, a formação dos músicos estrangeiros também contribuiu, pois, conforme diz, "há trinta anos atrás, as coisas em Portugal eram bem diferentes". Elogia o maestro titular da OCM, Rui Massena, considerando-o "um excelente maestro", "indiscutivelmente entre os melhores chefes de orquestra portugueses da actualidade, a par de Joana Carneiro". A geração anterior, considera, praticamente desapareceu de cena. Aplaude também o destaque que Massena tem dado aos compositores contemporâneos, os quais, internacionalmente, continuam a ser preteridos ou ignorados por muitas orquestras, cujos gestores "não querem pagar direitos de autor". Daí que muitos concertos sejam um "vira o disco e toca o mesmo". Se mais novos compositores fossem tocados, "o público dos concertos cresceria".

publicado por Correcaminhos às 12:10
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